quarta-feira, 25 de março de 2015

'Não sou a cadeira de rodas, sou um atleta', diz Fernando Fernandes

"Fiz essas fotos, entre outras coisas, para mostrar a normalidade. Mostrar a beleza. A cadeira é a cadeira. Eu não sou uma cadeira", disse nesta terça-feira (24) o tetracampeão em paracanoagem Fernando Fernandes sobre as fotos sensuais ao lado da namorada, que causaram alvoroço na internet recentemente. O romance dele é com austríaca Victoria Schwarz, também atleta da canoagem.
"A vida sexual do cadeirante mexe com a curiosidade. Mas não é só essa. O ensaio não foi no aspecto sexual, penso em quebrar os paradigmas de quem usa cadeira de rodas. Eu não sou uma cadeira de rodas, eu uso uma para me locomover. Mas não é algo fácil de mostrar. É preciso causar um impacto."
Fernando foi o entrevistado desta terça-feira da 'TV Folha' ao vivo. Quem conversou com ele foi o colunista e repórter de 'Cotidiano' Jairo Marques.
"Como atleta, me preocupo muito com isso. O atleta paraolímpico parece fazer coisas que não possíveis para ele. A mesma coisa com o ensaio, para que não confundam deficiência física com incapacidade."
Participante do "BBB 2", Fernando se tornou cadeirante após um acidente de carro em que dirigia em alta velocidade, em 2010. De lá para cá, deixou de ser modelo, criou uma ONG e tornou-se atleta. Ele refuta o termo "paraatleta". "Por acaso você é um parajornalista? Não, você é um jornalista como qualquer outro".
Para 2016, Fernando disse planeja tentar o ouro na Paraolimpíada do Rio.
ESPORTE
A respeito da Paraolímpíada, Fernandes falou sobre ser uma das principais apostas do Brasil para o ouro.
"Quando decidi que seria um atleta de paracanoeagem, a modalidade ainda não era um esporte paraolímpico. E no Brasil não tinha nenhum lesionado medular que praticasse. Então, resolvi investir minha vida nisso."
Ele conta que, quando sofreu o acidente, tinha R$ 50 mil na conta, dinheiro que guardou durante a carreira de modelo internacional. Ele resolveu apostar na canoa, em bancar sua participação em uma competição.
"Fui crescendo com a modalidade. Ano passado enfrentei o primeiro problema, que é a classificação funcional".
Os atletas com algum tipo de deficiência são separados por níveis de mobilidade para disputar categorias diferentes dentro de uma mesma mobilidade. Fernandes pertence à classe com menor mobilidade (apenas movimento nos braços)
"Tive que enfrentar, no mundial do ano passado, na Rússia, caras que andavam, mas tão fortes como eu. Tinha gente que ia sentado em uma cadeira de rodas para fingir que não andava, só para ganhar vantagem. Foi horrível", disse, ao contar que fez reclamações formais.
"Isso me desestruturou um pouco, e o jogo sujo me fez perder o prazer. Mas as coisas andaram, e vou para o Mundial deste ano [na Itália] com foco para vencer", diz, contando que, afinal a paracanoagem lhe deu a vida de volta, incluindo a namorada.
Ele relembra que 15 dias antes do acidente, ele embarcaria para abrir um desfile da Dolce & Gabana em Milão. E que, agora, ele está voltando para lá para competir, em agosto.
BBB
"Acho que me chamam de ex-BBB nas legendas porque escrever 'atleta de paracanoagem' é muito comprido", brinca. "Antes eu me incomodava, agora não ligo mais." Fernando diz que não assiste mais ao "reality show".
ONG
Ele também falou sobre a ONG que fundou, que auxilia crianças com e sem deficiência. "Eu precisava dar um retorno depois de tudo que ganhei."
"Eu abri na raça, com dinheiro do meu bolso", conta, para ensinar o esporte. Depois de um mês apareceu patrocínio financeiro, da Caixa. "Temos que criar formas de pagar salários de quem se dedica ao projeto, temos voluntários, temos apoio da Caiaque, que doa os caiaques.
AVIÃO
Sobre os entraves para viajar de avião, Fernandes diz que o despreparo é "assustador". Contou sobre o dia em que comprou uma passagem para viajar às 20h e, já na pista, ao entrar no ônibus, foi avisado que viajaria apenas as 20h45. Que foram grosseiros dizendo que não havia o equipamento necessário, e que mesmo ele tendo autorizado que o levassem no braço, isso não seria permitido.
"Logo depois, apareceram outras pessoas do aeroporto, sendo educados, pedindo desculpas, mas avisando que o outro avião já estava apto a recebê-lo. Agradeci e fui. Então, a falta de preparo e planejamento chateia", conta.
Para ele, a Paraolimpíada pode deixar esse legado, do treinamento, de um bom atendimento ao cadeirante.
"Acessibilidade é bom senso, não custa tanto. É fácil fazer uma rampa, um banheiro mais largo", afirma. "Mas não precisamos ser chatos, só cutucar. É mostrar sempre que possível."
Fernandes diz que no resto do mundo também há problemas.
"Minha namorada é austríaca. Tudo lá é acessível, menos as lojas e restaurantes!", brinca. "Podemos andar à vontade, mas não consumir. 

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