terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Jovem com deficiência intelectual alcança nota superior à média nacional no Enem

Bruno Santos Martins, 22 anos, obteve 280 pontos na redação e 567 em ciências humanas

Enquanto mais de meio milhão de estudantes em todo o país zeraram a prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, Bruno Santos Martins, 22 anos, que tem deficiência intelectual, conseguiu atingir 280 pontos. Um exemplo de que, apesar das limitações, é possível correr atrás dos sonhos.

Na avaliação de ciências humanas, ele alcançou a nota de 567,7, desempenho superior a média nacional, que ficou em 546 nessa área de conhecimento.

“Meu sonho é fazer faculdade de Direito. Advogar é uma profissão que admiro muito”, diz o estudante que também concluiu em 2014 o curso técnico em Segurança do Trabalho.

Bruno conseguiu ainda as notas de 430,2 em ciências da natureza e 449,6 em linguagens e códigos.

De acordo com a assistente de Educação Infantil e mãe de Bruno, Lucia Maria dos Santos Martins, ele não criou uma rotina específica de estudo. “Ele sempre gostou muito de ler jornais, revistas, sites, conteúdo ligado ao cinema e isso o ajudou muito na hora de enfrentar o teste”.

Em 2013 o desempenho do estudante não foi o mesmo. “Neste ano fiz a prova com mais calma. Os monitores não puseram pressão e esclareceram minhas dúvidas”, conta o estudante.

Foto: Edson Chagas - GZ
Bruno (no centro) comemora o resultado que obteve no Enem com o irmão, Samuel, e a mãe, Lúcia


Genética

Lucia explica que assim como seus outros dois filhos, entre eles Samuel, Bruno foi diagnosticado muito cedo com deficiência intelectual congênita ligada ao cromossomo X. Ela afirma que sente orgulho do desempenho do filho. “Estamos colhendo fruto de muita dedicação. Estamos felizes”, disse emocionada.

Essa deficiência, de acordo com a psicóloga e coordenadora do Curso de Psicologia da Universidade de Vila Velha (UVV) Luciana Bicalho, causa um retardo no desenvolvimento cognitivo, limitando a capacidade de julgamento, o raciocínio verbal e lógico, hipotético e dedutivo, além da capacidade de autocuidado, relacionamento interpessoal, entre outros fatores.

“Mas isso não significa ausência de inteligência. Há relatos de pessoas com deficiência intelectual que fazem faculdade. Elas precisam de acompanhamento multidisciplinar com fonoaudiólogo, psicopedagogo, terapeuta para se desenvolverem e assim conseguirem avançar”, esclarece.

Bruno frequenta a Apae de Laranjeiras, na Serra, onde participa de diversas atividades artísticas, como ir ao cinema, desenhar, pintar e produzir produtos artesanais. “Com isso, eles desenvolvem a autonomia para decidir entre uma coisa e outra, fundamental para o desenvolvimento intelectual e social”, explica a orientadora Patricia Andrade Costa.

Mãe queria cotas para deficientes

Apesar do desempenho do filho Bruno Santos Martins, 22 anos, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, a assistente de educação infantil Lucia Maria dos Santos está descontente. Segundo ela, o exame em si é excludente.

“O Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Programa Nossa Bolsa não pretendem o ingresso de deficientes intelectuais. Nem as cotas contemplam as pessoas nessas condições”, explica.

Além disso, ela ressalta que os critérios do processo seletivo do Enem não fazem distinção entre deficientes intelectuais e não-deficientes. “Considerando as limitações do meu filho, seu desempenho é similar aos que tiveram boas notas. Ou seja, a pontuação mínima exigida pelo Enem deveria ser diferente para deficientes intelectuais. Ou nossos filhos estão fadados a serem embaladores e repositores de supermercados?”, desabafa.

Fonte: A Gazeta

 

Nenhum comentário: